É socialmente aceito a expressão: “sou viciado em açúcar”. Mas vamos lá, alimento vicia? Antes de prosseguir a leitura me responda uma coisa: você conhece alguém ou até mesmo você, já sentiu sudorese por falta de uma comida ou bebida (não alcoólica) ou tremores por exemplo? Esse comportamento pode representar a crise de abstinência.
Esse termo que usamos de forma consagrada como: “sou viciado em pizza” (poderia usar essa frase para mim por exemplo, adoro esse alimento). A definição de vício requer critérios técnicos para seu emprego na saúde. Dessa forma os alimentos não correspondem aos critérios que definem a dependência que ocorre com drogas, álcool e jogos, por exemplo pelo *DSM5.
A dependência provocada pelo vício de fato, altera mecanismos neurológicos de captação de neurotransmissores modulando, por vezes, a racionalidade, o julgamento nas tomadas de decisão. Com frequência chegam informações de dependentes químicos realizando atos pouco racionais como furtos e até ações mais graves, pela falta da substância, conhecido como abstinência.
O alimento traz conforto e prazer ao ingerir e por isso a confusão com a ingestão em momentos de tristeza, ansiedade e etc. Porém os alimentos não comprometem a racionalidade, o julgamento, não alteram os mecanismos de ação de neurotransmissores nem a abstinência em sua retirada.
Ter prazer ao ingerir um alimento se assemelha, neurologicamente, ao prazer de ouvir uma boa música, um bom filme ou uma boa peça de teatro. Não é por isso então que empregamos a expressão: sou viciado em música boa por exemplo.
Precisamos ter clareza na diferenciação de vício por alimento dos comportamentos compulsivos verificados nos transtornos alimentares, esse é outro ponto para uma próxima conversa aqui.
O alimento então não possui base científica para ser classificado como viciante. Ele traz conforto, prazer, porém, na ausência de um alimento específico não perdemos a racionalidade, não arriscamos nossa vida para sua obtenção
Na próxima vez que for se referir a algum alimento que você gosta muito, lembre-se, adjetive-o pelas próprias características e não o classifique como uma dependência. Ele é apenas uma forma manifesta de prazer pelo aroma, sabor e sensação de bem estar.
Por Antonio Herbert Lancha Jr – Vitria Seguros